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Regulamentação do mercado de créditos de carbono: rumo à sustentabilidade global

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Principal mecanismo associado aos créditos de carbono é chamado de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que foi estabelecido pelo Protocolo de Kyoto

 

Por Larissa D’otaviano*

O mercado de créditos de carbono é uma das principais ferramentas a serem utilizadas na luta contra as mudanças climáticas. Com a crescente preocupação global em relação ao aumento das emissões de gases de efeito estufa e seus impactos negativos no clima e no meio ambiente, a regulamentação desse mercado se tornou essencial para promover a redução das emissões e incentivar práticas mais sustentáveis nas atividades econômicas.

Mas o que são créditos de carbono?
Créditos de carbono são unidades de medida que representam a redução de uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) ou equivalente de outros gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. Eles são gerados por projetos ou iniciativas que reduzem ou removem emissões, como o uso de energias renováveis, reflorestamento, eficiência energética ou a implementação de tecnologias limpas em processos industriais. Os créditos podem ser comprados e vendidos por empresas e governos em mercados especializados.

O principal mecanismo associado aos créditos de carbono é chamado de
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que foi estabelecido pelo Protocolo de Kyoto, um tratado internacional com o objetivo de combater as mudanças climáticas. O MDL permite que os países desenvolvidos compensem parte de suas emissões investindo em projetos de redução de emissões em países em desenvolvimento. Quando esses projetos são implementados e suas reduções de emissões são verificadas, eles geram créditos de carbono que podem ser negociados no mercado internacional.

Qual a importância da regulamentação dos créditos de carbono?
No Brasil, como em muitos outros países, existem regulamentações e políticas específicas relacionadas aos mercados de crédito de carbono. No passado, o Brasil foi um dos principais beneficiários do MDL, com muitos projetos aprovados e créditos de carbono gerados a partir de projetos de energia renovável, eficiência energética e gestão de resíduos, entre outros. Porém, é importante notar que o Protocolo de Kyoto foi substituído pelo Acordo de Paris em 2015, que também prevê mecanismos de mercado para combater as mudanças climáticas, mas ainda não estão tão desenvolvidos como o MDL.

No contexto mundial, outros mercados voluntários de crédito de carbono também existem, onde empresas e indivíduos podem comprar créditos de carbono para compensar suas emissões ou demonstrar seu compromisso com a sustentabilidade.

A regulamentação do mercado de créditos de carbono desempenha um papel crucial em garantir sua eficácia, transparência e integridade.

Algumas das razões pelas quais a regulamentação é essencial incluem:

– Padrões e metodologias: a regulamentação estabelece padrões e metodologias para a contabilização e certificação dos créditos de carbono. Isso garante que as reduções de emissões sejam quantificadas corretamente e que projetos válidos sejam reconhecidos;

– Prevenção de fraudes: um mercado de créditos de carbono sem regulamentação poderia ser suscetível a fraudes e práticas enganosas, prejudicando a confiança dos investidores e minando os esforços de mitigação das mudanças climáticas;

– Incentivo a investimentos em sustentabilidade: regulamentações claras e consistentes proporcionam segurança jurídica aos investidores e promovem o financiamento de projetos de redução de emissões, estimulando a adoção de práticas sustentáveis por parte das empresas;

– Equidade e desenvolvimento sustentável: a regulamentação também pode assegurar que projetos de créditos de carbono levem em consideração questões sociais e de desenvolvimento sustentável, evitando impactos negativos sobre comunidades locais e promovendo benefícios socioambientais;

– Redução das emissões: através do mercado de créditos de carbono, o Brasil pode implementar projetos de redução de emissões em diferentes setores, o que contribui para cumprir metas nacionais e internacionais de mitigação das mudanças climáticas;

– Geração de receitas: a venda de créditos de carbono pode gerar receitas para empresas e projetos, incentivando-os a continuarem suas atividades de redução de emissões;

– Acesso a recursos internacionais: participar de projetos de crédito de carbono permite que o Brasil acesse financiamentos e tecnologias mais limpas, além de fortalecer sua imagem como país comprometido com a sustentabilidade.

Existem diferentes abordagens de regulamentação do mercado de créditos de carbono ao redor do mundo. Alguns países e regiões implementaram sistemas nacionais de comércio de carbono, estabelecendo limites para as emissões de setores específicos e permitindo a compra e venda de créditos entre as empresas. Outros optaram por estabelecer programas voluntários de créditos de carbono ou aderiram a iniciativas internacionais, como o
MDL, do Protocolo de Kyoto.

Organismos internacionais, como a
Organização das Nações Unidas (ONU) e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), também desempenham um papel relevante na regulamentação do mercado global de créditos de carbono, incentivando a cooperação entre os países e promovendo a integridade dos créditos emitidos.

Quais os desafios e o futuro do mercado de créditos de carbono?
Apesar dos avanços na regulamentação, o mercado de créditos de carbono ainda enfrenta alguns desafios. A definição de padrões comuns entre diferentes programas e a garantia da rastreabilidade e veracidade dos créditos continuam sendo questões importantes a serem abordadas. Entretanto, com o aumento da consciência sobre as mudanças climáticas e a crescente pressão para a redução das emissões, espera-se que o mercado de créditos de carbono continue a evoluir e desempenhar um papel fundamental na transição para uma economia de baixo carbono. A regulamentação, nesse contexto, deve se adaptar e se aprimorar constantemente visando a eficiência e alinhamento com as metas globais de sustentabilidade. Em suma, a regulamentação do mercado de créditos de carbono é uma ferramenta essencial para alcançar um futuro mais sustentável, promovendo ações concretas de mitigação das mudanças climáticas e catalisando a transição para uma economia de baixo carbono, onde o desenvolvimento socioeconômico caminhe em harmonia com a preservação do meio ambiente.

Quais os principais “tipos” de créditos de carbono?
Existem diferentes tipos de créditos de carbono, cada um representando uma abordagem específica para a redução ou compensação das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Alguns dos principais tipos de créditos de carbono são:

– Créditos de carbono de projetos de mitigação: esses créditos são gerados a partir de projetos que visam reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Exemplos de projetos de mitigação incluem energia renovável, eficiência energética, reflorestamento e captura de metano em aterros sanitários, entre outros;

– Créditos de carbono de reflorestamento e uso da terra: esses créditos são originados a partir de projetos de reflorestamento, conservação florestal e gestão sustentável da terra, que resultam na remoção de CO2 da atmosfera e no armazenamento de carbono em florestas e solos;

– Créditos de carbono de redução certificada de emissões (CERs): são créditos gerados através do
MDL. Projetos em países em desenvolvimento que reduzem as emissões e são aprovados pelo MDL geram CERs, que podem ser vendidos para países desenvolvidos para compensar parte de suas emissões;

– Créditos de carbono voluntário: esses créditos são gerados em projetos não vinculados a obrigações legais ou tratados internacionais, mas são adquiridos voluntariamente por empresas, organizações ou indivíduos para compensar suas próprias emissões e demonstrar compromisso com a sustentabilidade;

– Créditos de carbono de uso eficiente de biomassa: esses créditos são gerados por projetos que utilizam biomassa de maneira sustentável e eficiente, contribuindo para reduzir as emissões de carbono em comparação com as práticas convencionais;

– Créditos de carbono de tecnologias de baixo carbono: esses créditos são originados a partir de projetos que promovem o uso de tecnologias de baixo carbono, como energia solar, eólica e geotérmica, entre outras;

– Créditos de carbono de captura e armazenamento de carbono (CCS): são créditos gerados por projetos de CCS, que capturam o CO2 emitido por fontes industriais e de energia antes que seja liberado na atmosfera e o armazenam em reservatórios geológicos subterrâneos.

Esses são apenas alguns exemplos dos tipos de créditos de carbono que existem. Cada mercado de crédito de carbono pode ter suas próprias especificidades e critérios para a geração e certificação desses créditos. É importante notar que, independentemente do tipo de crédito de carbono, todos têm o objetivo comum de contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa e combater as mudanças climáticas.

Qual a relação entre créditos de carbono e finanças sustentáveis?
As finanças sustentáveis e créditos de carbono estão intrinsecamente relacionados e desempenham um papel crucial no enfrentamento das mudanças climáticas e na promoção do desenvolvimento sustentável. A seguir, estão algumas das principais conexões entre finanças sustentáveis e créditos de carbono:

– Investimentos em projetos de crédito de carbono: finanças sustentáveis envolvem investimentos em projetos e iniciativas que buscam soluções ambientalmente amigáveis e socialmente responsáveis. Os projetos de crédito de carbono, como aqueles que promovem energias renováveis, eficiência energética, reflorestamento e tecnologias de baixo carbono, são atraentes para investidores sustentáveis, pois ajudam a combater as mudanças climáticas e a proteger o meio ambiente;

– Mercados de carbono e investimentos verdes: os mercados de carbono, onde os créditos de carbono são comprados e vendidos, criam oportunidades para os investidores comprometidos com a sustentabilidade. Esses mercados permitem que as empresas comprem créditos de carbono para compensar suas próprias emissões e, ao mesmo tempo, financiem projetos que reduzem as emissões globais;

– Incentivo para a transição para uma economia de baixo carbono: ao investir em projetos de crédito de carbono, os financiadores sustentáveis estão contribuindo para a transição da economia para uma trajetória de baixo carbono. Esses investimentos incentivam a adoção de tecnologias e práticas mais limpas, tornando as atividades econômicas mais amigáveis ao meio ambiente;

– Integrando riscos climáticos nas decisões de investimento: a incorporação de créditos de carbono em estratégias de investimento também pode ser uma forma de gerenciar riscos climáticos. As empresas e investidores estão cada vez mais cientes dos riscos financeiros associados às mudanças climáticas, como regulamentações mais rígidas, aumento dos preços do carbono e a transição para uma economia de baixo carbono. Investir em créditos de carbono pode ser uma maneira de se posicionar melhor para enfrentar esses riscos;

– Demonstração de responsabilidade corporativa: as instituições financeiras e as empresas que investem em créditos de carbono podem demonstrar seu compromisso com a responsabilidade corporativa e ambiental. Essas ações podem melhorar a imagem de marca e atrair clientes, investidores e parceiros que valorizam a sustentabilidade.

Em resumo, finanças sustentáveis e créditos de carbono são elementos complementares que ajudam a alinhar os interesses financeiros com a proteção ambiental. O investimento em projetos de crédito de carbono é uma forma concreta de promover a sustentabilidade e enfrentar os desafios das mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que abre oportunidades de negócios e gera impacto positivo para a sociedade.



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**As opiniões expressas e os dados apresentados em artigos são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, o posicionamento dos editores do Conecta Verde.
Crédito da Imagem / Freepik: https://br.freepik.com/fotos-gratis/vista-de-arvores-verdes-da-floresta-com-co2
Conteúdo por:

Larissa D'otaviano*

*Larissa D'otaviano é engenheira química (USP), com MBA em Gestão de Negócios (USP) e pós-graduada em ESG e Sustentabilidade Corporativa (FGV). Atualmente, desempenha o papel de gerente de Pesquisa e Desenvolvimento de tecnologias de reciclagem avançada na Valgroup.

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