De acordo com a empresa, material Mush substitui opções tradicionais de origem não-renovável, é biodegradável e ainda atua como condicionador de solo classe A
Por Elen Nunes / Editado por Flavius Deliberalli
Embalagem feita de micélio? Com base na biotecnologia, a Mush apresenta ao mercado brasileiro um material inovador, versátil e sustentável, criado a partir do crescimento de fungos em resíduos da agroindústria.
A startup tem orgulho de ter nascido dentro da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Ponta Grossa, a partir de um projeto de iniciação científica orientado pelo ex-professor Eduardo Bittencourt Sydney e executado por Leandro Inagaki Oshiro, em 2019.
Dedicados profundamente a validar a tecnologia em escala laboratorial, a cada teste os profissionais se impressionavam mais com a versatilidade e potencial da tecnologia. Com a chegada de Antonio Carlos de Francisco, que assumiu a cadeira de sustentabilidade, aumentaram pesquisas e testes até validarem propriedades físicas, químicas e mecânicas do material, bem como sua biodegradabilidade e compostabilidade. “A partir daí, entendemos que com base em um único sistema produtivo, poderíamos gerar soluções realmente sustentáveis para diversos mercados, substituindo materiais tradicionais de origem fóssil”, relembra Eduardo, que é CEO da Mush.
O ano de 2021 iniciou com o desafio de buscar investimentos para montar a primeira indústria de micélio da América Latina. Com o apoio da Ventiur Aceleradora e de editais de fomento, os criadores do projeto investiram na estrutura, equipamentos e formação de time e terminaram o ano com a fábrica operando de forma otimizada no Paraná. E agora, em 2022, a Mush iniciou a comercialização de produtos que tem sido aceitos de forma surpreendente nos mercados de design, arquitetura e construção.
“Somos pioneiros no Brasil com a tecnologia de micélio. E até agora, os únicos a estarem comercializando produtos. Portanto, é nosso o desafio de apresentar essa tecnologia e produtos para o mercado brasileiro. Estamos muito felizes com a aceitação e o sucesso que temos alcançado até aqui”, celebra Eduardo.
Sobre o material, Eduardo explica que, a agricultura e silvicultura são, sabidamente, grandes forças econômicas do país. O que pouca gente sabe é que, em média, gera-se 2 toneladas de resíduos vegetais para cada tonelada de grão produzido ou madeira cortada (cascas, palhas, bagaços, serragem, etc). Isso significa que a maior parte do recurso humano, econômico, financeiro, ambiental e tempo, entre outros, resulta na produção de um subproduto que não possui valor. Ao mesmo tempo, é um material de origem renovável e que deve ser aproveitado de forma mais racional.
“Nós utilizamos esses resíduos vegetais como suporte e fonte de nutrientes para o crescimento de um fungo. Esse fungo funciona como uma cola natural, agregando as partículas e formando um novo material. O crescimento do fungo é feito em moldes e, no final do processo, o fungo é inativado. Com isso, o material é estabilizado e possui longa durabilidade”, detalha.
Ainda segundo Eduardo, o ciclo de vida é perfeito: o material Mush nasce de resíduos agrícolas, vira um produto que substitui materiais tradicionais de origem não-renovável, e ao ser descartado na natureza, não só é biodegradável, mas atua como um condicionador de solo classe A. E mais: a Análise de Ciclo de Vida da tecnologia garante carbono neutro, ou seja, não emite CO2 extra para a atmosfera durante a produção. Sendo assim, uma das metas da empresa em um futuro próximo é gerar créditos de carbono.
A Mush valida que o material é biodegradável em 28 dias em condições de compostagem industrial (norma OECD 301B). Porém, sabendo que o volume de material que possui destinação correta é muito baixo no Brasil, realizou um estudo de compostabilidade em condição doméstica, que mostrou que o Mush biodegrada em terra, areia, água doce e água salgada. Segundo a empresa, isso significa que não importa aonde o material Mush seja descartado, ele não vai poluir a natureza. “É importante ressaltar que nosso material funciona como um condicionador de solo Classe A. Então, Mush não só não faz mal para a natureza, pelo contrário, faz bem”, celebra Eduardo.
Vale reforçar a importância de diferenciar o que são produtos biodegradáveis e produtos perecíveis. Produtos perecíveis são aqueles que estragam sozinhos com o tempo. Produtos biodegradáveis são aqueles que se decompõem quando sob ação de microrganismos. O material Mush é biodegradável, mas não perecível. Ou seja, não vai estragar e só vai se decompor quando devidamente descartado.
Sobre o portfólio, atualmente a marca comercializa produtos para arquitetura e design de interiores. “Em parceria com a Furf Design Studio, desenvolvemos a Coleção Íris, que são revestimentos e nuvens acústicas que tem como propósito agregar beleza, conforto e sustentabilidade em ambientes residenciais e corporativos. Neste ano, expomos nosso material na Casa Cor PR, no premiado espaço pelo Studio Arquitetonika Nomad, onde instalamos um forro acústico que é a maior instalação de micélio da América Latina”, explica Eduardo.
Há também uma a luminária de piso, criada através de uma parceria entre a Mush, Furf Design Studio e Ner Conceito, e a Coleção Cosmos, fabricada com micélio pigmentado naturalmente e que brilha no escuro.
Para o mercado de embalagens, a Mush demonstra grande entusiasmo, apesar do desafio que exige uma grande capacidade de produção. Hoje, com a tecnologia validada em escala piloto, a Mush tem buscado empresas parceiras e investidores inovadores para colocar a primeira embalagem de micélio no mercado brasileiro.
“Utilizando o mesmo sistema produtivo dos produtos para Arquitetura e Design, podemos produzir embalagens secundárias biodegradáveis customizadas. Neste setor, nosso papel não se resume apenas a substituir o plástico e o poliestireno expandido. Trabalhamos para garantir uma nova experiência ao consumidor final, que pode utilizar a embalagem como adubo em casa e não apenas descartá-la, e dessa forma, fortalecer a política e ações de sustentabilidade dos nossos clientes”, ressalta.
Recentemente a empresa firmou parceria com Mauricio Camim, consultor em bioembalagens e biodesign, a fim de desenvolver e expandir sua atuação em embalagens de micélio. “Temos grande convicção que a Mush pode trazer uma contribuição muito significativa em sustentabilidade para o setor de embalagens e o Maurício é uma referência nesse mercado. Acreditamos que ele seja um ótimo parceiro para potencializar nossas ações”, considera o CEO da Mush.
É novidade, porém já premiada
Embora seja recente sua atuação, a tecnologia Mush é tão rica que já conquistou diversos prêmios nacionais e internacionais, fortalecendo seu propósito e credibilidade como startup diferenciada e precursora de um material que deve ser cada vez mais demandado pela indústria: campeã do reality show Rocket Startup – Órbita Agro (Rede Globo PR); menção honrosa no 32º Congresso Brasileiro de Cosmetologia; TOP3 construtechs mais inovadoras no MINASCON 2020; 2º Lugar no concurso internacional “From Linear to Circular Ideas”; Prêmios Habitats da Inovação e Startup Revelação do SEBRAE-PR; Selo ODS 2021 e dupla premiação no Brasil Design Awards.
Nosso troféu é Mush
E nós, aqui do Conecta Verde, adoramos toda essa novidade desde a primeira vez que tivemos contato. E foi por isso convidamos a Mush para desenvolver o troféu do primeiro Prêmio Conecta Verde, pois trata-se de ume material que tem tudo a ver com nossa mensagem de gerar impacto positivo.
Nessa oportunidade, a designer Jéssica Novak buscou criar uma peça com design diferenciado e que trouxesse em si a essência da busca por um mundo mais sustentável, que são pilares tanto do Conecta Verde quanto da Mush.
“O processo de criação, brainstorming e desenvolvimento foi leve e agradável. As duas peças da frente recebem cores, mostrando que o futuro pode ser mais interessante quando utilizamos a criatividade e soluções tecnológicas para nos tornarmos mais sustentáveis. Atrás, uma base maciça em sua cor natural representa os valores das empresas. E na frente, um semicírculo azul representa o planeta, com uma folha verde representando a sustentabilidade. O resultado foi uma peça de fácil interpretação, clara e minimalista. Me sinto honrada de fazer parte desta parceria que premia iniciativas tão importantes para o nosso cenário ambiental”, finaliza a designer.