Ferramenta traz visão direta sobre os requisitos ambientais envolvidos em um projeto de embalagem
Por Ricardo Marques Sastre*
Pelo fato das embalagens serem um importante componente dos resíduos gerados no planeta, torna-se essencial o olhar sobre as questões envolvendo sustentabilidade. Um dos caminhos para contribuir com a solução dos problemas causados pelo excesso de embalagens no meio ambiente são os 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar). A redução em um sentido mais amplo é um caminho tangível para quantificar e medir a eficácia das ações envolvendo sustentabilidade. Reduzir o consumo, reduzir a quantidade de materiais utilizados na produção de embalagens, otimizar projetos estruturais para aumentar a quantidade de produtos transportados em um mesmo espaço físico, dentre outras ações, são alguns exemplos.
A reutilização e a reciclagem podem ser mais difíceis de mensurar os seus resultados em relação a efetividade na redução de impacto ambiental. Diariamente são veiculadas notícias sobre a eficácia de uma matéria-prima em detrimento da outra. Adotei a expressão “guerra dos materiais” para me referir a isso. Neste sentido, recomendo ter cautela sobre o conteúdo das informações e a sua eficácia. Sendo a embalagem um sistema complexo e que possui interações previsíveis ou inesperadas em suas partes e processos, uma alteração qualquer poderá significar uma troca ou aumento de impacto ambiental e não uma solução efetiva. Por exemplo, importar uma embalagem feita com recursos renováveis poderá impactar no aumento da emissão de gases de efeito estufa em sua longa jornada até chegar ao Brasil.
O grande desafio encontrado pelos projetistas de embalagens é conseguir medir o seu desempenho sustentável e fazer com que ela cumpra todas as suas funções de maneira satisfatória, atendendo a cadeia de stakeholders envolvidos e interligados, contemplando a interação da embalagem com o produto, seu usuário, a indústria convertedora e de envase, com foco em uma solução sustentável que não agrida o meio ambiente.
Na busca de soluções mais assertivas em relação a projetos de embalagens sustentáveis, os pesquisadores e o mercado utilizam ferramentas para auxiliar no desempenho de embalagens, com destaque para a análise de ciclo de vida (ACV). A análise do ciclo de vida é um processo de avaliação do desempenho ambiental associado a um produto, calculando a energia e os materiais usados e os resíduos e emissões liberados ao longo de todo o ciclo de vida. Em relação à sustentabilidade na embalagem, é importante analisar todo o ciclo de vida e avaliar múltiplos impactos causados. Os sistemas de embalagem consomem recursos naturais e energia, geram resíduos e emitem poluentes. Portanto, o ACV tornou-se uma ferramenta de apoio à decisão no design de embalagens sustentáveis.
As ferramentas de análise de ciclo de vida nem sempre estão acessíveis para uso e a sua aplicação pode se tornar uma tarefa difícil para os projetistas de embalagem devido a sua complexidade de operação e o elevado custo financeiro para implantação. A partir da análise das ferramentas de ACV e da literatura disponível sobre o tema, propus uma simplificação através de uma lista compondo um total de 18 requisitos para o desenvolvimento e avaliação de desempenho de sustentabilidade ambiental em embalagens, divididos em requisitos ambientais (consumo de recursos naturais e geração de resíduos) e requisitos projetuais (práticas sustentáveis e ecodesign).
Recomenda-se a aplicação de requisitos técnicos, os quais são métricas, indicadores e especificações para cada atributo ambiental proposto. Os requisitos são uma referência para serem adaptados a cada especificidade do projeto. Podem auxiliar na tomada de decisão, facilitar uma discussão sobre sustentabilidade entre as partes envolvidas ou até mesmo fornecer avaliações de todo o sistema de embalagens. A variedade de indicadores busca atender uma gama completa sobre os aspectos ambientais. Em cada caso, a quantidade e o tipo de métricas utilizadas dependerão de questões relativas ao escopo do projeto.
Para concluir, esta ferramenta traz uma visão direta sobre os requisitos ambientais envolvidos em um projeto de embalagem e pode ser utilizada, em sua plenitude, quando houver dados disponíveis ou apenas medir o que estiver acessível aos envolvidos no projeto.
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