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Os princípios da Economia Circular

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Especialista destaca que a reciclagem deve ser sempre a última opção, uma vez que consome mais recursos para a sua realização

Por Larissa D’otaviano*

Olá, leitores do Conecta Verde! Meu nome é Larissa e estou entusiasmada por fazer parte da equipe Conecta Verde como colunista, e compartilhar informações sobre o mundo fascinante da reciclagem e da Economia Circular.

Como gerente de pesquisa e desenvolvimento para tecnologias de reciclagem avançada, tenho me dedicado a encontrar soluções inovadoras para enfrentar os desafios ambientais relacionados ao descarte inadequado de embalagens.

Vamos começar falando sobre economia circular?

Após a Revolução Industrial, vimos uma crescente exponencial na produção de manufaturados e consequente aumento do consumo de recursos naturais e consequente descarte de tais produtos. Esse sistema ficou conhecido como economia linear: extração – produção – consumo – descarte. De 1900 a 1970, observou-se uma extração de recursos de 26,7 Gt de recursos naturais. Nesse período, observou-se ainda que essa extração continua de materiais se tornaria insustentável ao longo dos anos. Com isso, nasceu o conceito de Economia Circular1.

A Economia Circular é um conceito inovador, que tem ganhado destaque na busca por soluções sustentáveis para os desafios ambientais e econômicos do nosso tempo. Baseada em três princípios fundamentais e nos ciclos biológicos e técnicos, a Economia Circular propõe uma abordagem inovadora e holística para repensar a forma como produzimos, consumimos e descartamos produtos.

Os três princípios básicos da Economia Circular que guiam todas as definições de tal conceito são:

1- Reduzir e eliminar a produção de resíduos;
2- Manter produtos e materiais em ciclo de utilização;
3- Garantir que os recursos utilizados sejam regenerados2.

Para garantir que esses princípios sejam cumpridos, o design é fator fundamental. O design dos produtos auxilia na escolha correta dos materiais e tecnologias a serem aplicados.

A imagem3 a seguir representa os princípios e definições participantes:

Como podemos observar, o principio 2 é um dos principais dentro do conceito de Economia Circular, e ele é composto por dois ciclos principais: ciclo biológico e ciclo tecnológico.

Nos ciclos biológicos, os materiais utilizados em produtos são projetados para serem facilmente reintegrados na natureza, sem causar danos ao meio ambiente. Essa abordagem envolve a utilização de materiais biodegradáveis, como papel, papelão e alguns plásticos, que podem ser compostados ou utilizados na produção de energia renovável. Ao adotar esse princípio, buscamos minimizar a extração de recursos naturais e reduzir a quantidade de resíduos destinados a aterros sanitários.

O segundo princípio base da Economia Circular é o de criar ciclos técnicos, nos quais os materiais não biodegradáveis são recuperados, reutilizados e reciclados de forma eficiente. Ao invés de seguir um modelo linear de produção e consumo, no qual os produtos são utilizados e descartados, a Economia Circular promove a ideia de que os materiais devem circular em um sistema fechado, sendo reutilizados e reciclados para criar novos produtos. Isso envolve o desenvolvimento de tecnologias avançadas de reciclagem, a implementação de sistemas de coleta seletiva e a conscientização sobre a importância da reciclagem.

Dentro dos ciclos técnicos, temos quatro camadas principais: manter e prolongar, reutilizar, remanufaturar e reciclar. Como é possível observar na figura, esses ciclos são compostos de camadas, sendo a camada mais inferior indicada como “manter e prolongar”. E quanto mais inferior a camada for, mais ideal é o processo, pois consome menos recursos. Ou seja, utilizando como exemplo um celular, o ideal é que esse celular seja utilizado em sua capacidade máxima, então caso o telefone apresente algum problema, o ideal é que existam peças de reposição para rápida manutenção (manter e prolongar). Caso a pessoa não deseje mais o telefone, o ideal é passar para venda em segunda mão (reutilizar). Quando o telefone atingir sua capacidade máxima de uso, o ideal é que seja recolhido pela fábrica através de programa de logística reversa, para que as peças possam ser reaproveitadas (remanufaturar), e as peças que não forem passiveis de remanufatura, sejam enviadas para reciclagem.

A reciclagem deve ser sempre a última opção, visto que são necessários mais recursos para a sua realização.

Sendo assim, a Economia Circular propõe uma abordagem proativa, buscando evitar a geração de resíduos desde a concepção dos produtos. Isso pode ser alcançado através do design sustentável, que prioriza a durabilidade, a reparabilidade e a reutilização dos produtos. Além disso, estratégias como a economia de compartilhamento e a locação e a troca de produtos também contribuem para a redução do desperdício, maximizando a utilização dos recursos disponíveis.

Em resumo, a Economia Circular busca transformar a forma como produzimos e consumimos, criando um sistema mais sustentável e eficiente. Essa abordagem tem o potencial de reduzir a pressão sobre os recursos naturais, diminuir a quantidade de resíduos gerados e promover uma economia mais resiliente.

A transição para uma Economia Circular requer o envolvimento de todos os setores da sociedade, desde governos e empresas até os consumidores, para que juntos possamos construir um futuro mais sustentável e equilibrado.

 

 

Referências bibliográficas:
1- WIT, M. D.; VERSTRAETEN-JOCHEMSEN, J. J.; HOOGZAAD, J.; KUBBINGA, B. B. The circularity gap report: closing the circularity gap in a 9% world. Amsterdã: Circle Economy, 2019.

2- CE. Comissão Europeia. Fechar o ciclo: plano de ação da UE para a economia circular. Bruxelas: CE, 2015.

3- EMF. ELLEN MACARTHUR FOUNDATION. Growth within: a circular economy vision for a competitive Europe. Mann, 2015.

4- ACCENTURE. Circular advantage: innovative business models and technologies to create value in a world without limits to growth. 2014.

**As opiniões expressas e os dados apresentados em artigos são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, o posicionamento dos editores do Conecta Verde.

 

Conteúdo por:

Larissa D'otaviano*

*Larissa D'otaviano é engenheira química (USP), com MBA em Gestão de Negócios (USP) e pós-graduada em ESG e Sustentabilidade Corporativa (FGV). Atualmente, desempenha o papel de gerente de Pesquisa e Desenvolvimento de tecnologias de reciclagem avançada na Valgroup.

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