A concepção de projetos estruturais mais eficientes e enxutos e a comunicação com os consumidores estão entre as possíveis contribuições do design de embalagens
Por Ricardo Marques Sastre*
Recentemente tive a oportunidade de estar novamente em uma cooperativa de catadores de materiais recicláveis, mas desta vez por um motivo especial: a comemoração dos três anos do portal Conecta Verde.
Neste encontro, pela primeira vez, desempenhei o trabalho de separação de resíduos em uma esteira de reciclagem. Minha tarefa durante alguns minutos era separar dois tipos de materiais, os plásticos flexíveis transparentes no lado esquerdo e os coloridos no lado direito.
No decorrer da esteira, diversas pessoas cumprem a função de separar de dois a quatro tipos de materiais e o esforço coletivo compõe a triagem dos principais itens a serem encaminhados para a reciclagem. Fomos colocados no posto de trabalho das cooperadas e quando a esteira começou a se movimentar, o foco estava em não deixar passar nenhuma embalagem.
A predominância dos resíduos na esteira são embalagens vazias. Nesta cooperativa é feita uma seleção prévia e retirados os materiais maiores, como eletrônicos, peças plásticas e utensílios. Para facilitar o trabalho, também é feita a abertura das sacolas e sacos neste processo inicial. Os materiais que acabam sendo rejeitados, passam por mais uma revisão para tentar recuperar o maior volume de resíduos. Mesmo com a seleção inicial, foi possível visualizar na esteira rejeitos orgânicos, curativos e papel higiênico usado.
Durante esta experiência, a cooperada que ocupa a posição na esteira em que eu estava trabalhando foi me orientando e explicando os tipos de materiais que não possuem valor para reciclagem, como embalagens flexíveis de macarrão por exemplo, o BOPP. O polímero é identificado pela sua rigidez, aparência e a emissão de um som quando pressionado.
Em poucos minutos foi possível perceber que muitas embalagens são rejeitadas por não terem uma cadeia de reciclagem consolidada na região e/ou por não ter valor comercial e/ou por outros motivos aleatórios. O percentual de embalagens recicladas no Brasil ainda é insuficiente e tornam-se necessárias ações paralelas para ampliar as soluções para reciclagem mecânica e manual.
Antes de tudo, recomenda-se entender como evitar que os resíduos cheguem ao seu fim de vida. Neste contexto, o design pode contribuir através da concepção de projetos estruturais mais eficientes e enxutos e na comunicação com os consumidores para orientá-los sobre o reaproveitamento ou correto descarte. Outro fator importante é observar o ciclo de vida do produto e da embalagem para buscar soluções de redução em toda a cadeia. Apesar de gerar custos para as empresas, é possível identificar muitas oportunidades de redução de custos e impacto ambiental. Buscar soluções para eliminar a embalagem e reduzir o consumo através da mudança de hábitos também são importantes.
Um dos fatores predominantes para reduzir impacto ambiental é buscar a essência do comportamento do ser humano e das empresas. A partir deste entendimento, torna-se viável a transformação do modelo linear, que perdura desde o início da revolução industrial, para o modelo de economia circular. Desenhar estes novos fluxos e configuração de trabalho são tarefas em que a área do design poderá ter um bom desempenho por utilizar métodos e ferramentas criativas na solução de problemas complexos.
O setor de reciclagem possui uma linguagem particular quando se refere aos resíduos e entender estes códigos e os problemas que chegam até a esteira de reciclagem auxiliam para o entendimento do contexto e na tomada de decisão para soluções mais eficientes.
A Fundação Ellen MacArthur, protagonista no fomento da economia circular no planeta, afirma que 80% dos problemas que causam impacto ambiental podem ser evitados na fase de projeto. O design é protagonista neste cenário. Fomentar o desenvolvimento de projetos com o olhar para a sustentabilidade torna-se pré-requisito para qualquer novo produto ou embalagem. Nosso planeta está esgotado, não há mais espaço para desperdícios e tentativas e erros.
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