Confira entrevista exclusiva com Rodrigo Jobim, CEO e fundador da startup
Por Elen Nunes / Editado por Flavius Deliberalli
O portal Conecta Verde destaca uma entrevista com Rodrigo Jobim, CEO e fundador da Molécoola. Ele nos conta sobre como surgiu a ideia de criar a startup e quais os objetivos do projeto.
Acompanhe agora:
1- O que é a Molécoola? Por quem foi idealizada? Detalhe como surgiu e como funciona.
A Molécoola foi idealizada por Rodrigo Jobim. Antes de fundar a startup, Rodrigo Jobim atuava como consultor nos mercados de bens de consumo, manufatura, varejo e indústria. Em uma reunião, descobriu que o modelo de reciclagem vigente com a separação e tratamento dos materiais não funcionava tão bem quanto imaginava. Por algum tempo manteve isso em mente. Foi então que percebeu que com algum esforço (difundir as práticas corretas de separação e de tratamento do lixo), seria possível gerar grandes resultados.
Assim surgiu a Molécoola, com a missão de engajar as pessoas a promoverem o correto descarte dos resíduos sólidos. Com o tempo, um outro objetivo foi traçado: o da educação, com o ensino do manejo correto dos materiais para destiná-los à reciclagem. Para se ter uma ideia, cerca de 40% de todo lixo reciclável que chega aos pontos de reciclagem é rejeitado pelo simples desconhecimento do consumidor da forma adequada de descarte.
E para criar um ciclo positivo com o engajamento de todos, veio a ideia de um programa de fidelidade que fornece pontos para a população a cada descarte correto de materiais recicláveis. Constatamos que a maior parte do lixo reciclável é composto por garrafas de produtos líquidos alimentícios e de limpeza (45%) e por papel, papelão, óleo de cozinha, pilhas e baterias (39%). O que faz com que com um pequeno esforço, cada indivíduo já consiga fazer uma diferença enorme no aumento do volume de recicláveis.
Nosso modelo traz ainda uma alternativa para pessoas em situação de vulnerabilidade, que inclui aqueles que trabalham em cooperativas de reciclagem. Estes têm a oportunidade de se tornarem microempreendedores em uma estação Molécoola, que fornece a capacitação para a operação do negócio. A atividade é viabilizada ao empreendedor no modelo de aluguel dos equipamentos, com suporte financeiro inicial até que a operação se estabilize e ande com as próprias pernas. Também desenvolvemos parceria com a indústria, aproximando as marcas dos consumidores, realizando a economia circular e permitindo a logística reversa das embalagens dessas empresas.
2- Qual o trabalho da Molécoola após o recebimento dessas embalagens?
As embalagens e resíduos recebidos nas estações são devidamente cuidados e organizados, a fim de entregar ao parceiro logístico da Molécoola. Esses produtos são vendidos, gerando receita para o empreendedor responsável pela Estação Molécoola.
“Cerca de 40% de todo lixo reciclável que chega aos pontos de reciclagem é rejeitado pelo simples desconhecimento do consumidor da forma adequada de descarte”
3- Ações de pontuação estimulam a reciclagem, a logística reversa e a economia circular, ou seja, são muito significativas para reduzir o impacto. Você acredita que atualmente a maioria dos consumidores já possuem essa informação clara, sobre a importância da separação de materiais/embalagens?
Ainda temos no Brasil uma questão primária para avançarmos em relação ao correto descarte de embalagens e lixos retornáveis: a educação. De maneira geral, não fomos ensinados a entender o ciclo do lixo. Sendo assim, muitas vezes sequer sabemos como descartá-lo da maneira correta. Na Molécoola, a gente traz a educação ambiental para o dia a dia do consumidor, que avança na jornada de se tornar mais consciente sobre suas decisões de compra e, em contrapartida, oferecemos a certeza de que os recicláveis terão destino 100% correto, além de dar pontos de fidelidade que são trocados por produtos de parceiros, empenhados em dar um impulso importante para os consumidores se engajarem na reciclagem.
Além do próprio modelo de bonificação, buscamos engajar os consumidores por meio de treinamentos temáticos em nossa plataforma (tanto no site quanto no aplicativo) e nas nossas redes sociais. Nestes canais, disponibilizamos vídeos didáticos ensinando o descarte correto de cada material e os cuidados para fazê-lo. Para acessá-los em nosso app, basta ir à aba “treinamento”. No site, também buscar o menu “treinamento”.
4- Qual é a sua percepção em relação a educação ambiental do consumidor brasileiro?
No sentido de que a educação ambiental fique mais estabelecida e arraigada junto à população, há ainda um caminho a ser percorrido. Culturalmente, não fomos ensinados a entender o ciclo do lixo, que para as gerações passadas, representava no máximo um potencial problema para o futuro. Mas este já é um problema real e presente. Justamente por essa cultura que herdamos, muitas vezes sequer sabemos como descartar o lixo da maneira correta. E esse ponto, como destaquei acima, é um dos pilares que trabalhamos na Molécoola. Criamos um modelo de bonificação, amparado na educação ambiental, trazendo pontos importantes para que a sociedade passe a entender o ciclo do lixo e como devem ser descartados. É uma questão coletiva importante e estamos envolvidos nesse ecossistema para ajudar no desenvolvimento dessa educação.
“De maneira geral, não fomos ensinados a entender o ciclo do lixo. Sendo assim, muitas vezes sequer sabemos como descartá-lo da maneira correta. Na Molécoola, a gente traz a educação ambiental para o dia a dia do consumidor, que avança na jornada de se tornar mais consciente sobre suas decisões de compra”
5- Como você acha que a indústria poderia informar melhor o consumidor sobre a necessidade de reciclar?
A indústria tem buscado atender as requisições da chamada agenda ESG e tido o cuidado de olhar para o futuro e construir uma agenda positiva neste sentido. Assim, tem tomado medidas práticas não apenas no que diz respeito à produção, mas ainda, em relação a outras etapas ligadas ao processo de reciclagem. Cada vez mais é importante que desenvolva parcerias capazes de aproximá-la dos consumidores e recicladores, o que irá acelerar o processo de economia circular. Ninguém vai conseguir fazer nada sozinho, é preciso cooperação entre todos os players envolvidos nas cadeias: indústria, varejo e sociedade como um todo.
6- Como tem sido o crescimento dessa demanda? Procura de empresas que entendem o propósito e a importância da logística reversa e, no caso, benefícios de pontos para incentivar a reciclagem e também como ferramenta de posicionamento da marca diante do consumidor?
A Molécoola está sempre atenta a parcerias que façam sentido para o seu objetivo de engajar as pessoas a descartarem de maneira correta o lixo que geram. E tem visto um interesse das empresas numa ação conjunta, com uma sinergia de objetivos: criar mecanismos capazes de ensinar o consumidor sobre o descarte correto e mostrar-lhe as vantagens do comportamento consciente. Nossas ações, aliadas às das empresas, podem ter um impacto positivo na transformação da realidade, por meio de ações individuais, capazes de gerar benefícios não só para as pessoas, mas para toda a cadeia de reciclagem.
7- Qual a importância da cadeia produtiva e usuária de embalagem adotar esse tipo de iniciativa?
Ações conjuntas e coordenadas de diferentes atores, no longo prazo, é o que beneficiará a sociedade no que diz respeito a uma economia circular. O ponto chave é que existe uma inter-relação e até mesmo uma interdependência entre cada uma destas pontas da cadeia, sendo que o papel de todos é igualmente relevante. Para que a cadeia produtiva tenha sucesso no que diz respeito à circularidade das matérias-primas que disponibiliza para os consumidores, é necessário também que estes tenham um comportamento consciente e efetivo neste sentido.
8- Quais as principais dificuldades que você vê hoje, no Brasil, para uma logística reversa mais efetiva?
Acredito que os âmbitos corporativo, governamental e legislativo já estejam dando passos bem importantes se os compararmos a iniciativas dadas no passado. A popularização das temáticas ligadas à sustentabilidade é um critério que ajuda a sensibilizar o consumidor final, que forma apenas uma das pontas dessa cadeia. Reforço que a educação ambiental é então um caminho sem volta para construirmos um futuro verdadeiramente pautado no descarte correto do lixo, em grande escala. Neste sentido, os mecanismos capazes de engajar os consumidores e oferecer-lhes uma experiência verdadeiramente impactante terão um grande papel para ajudar a resolver esta difícil equação, que carrega consigo, na verdade, um problema cultural do Brasil, que teve início a partir de muitas gerações anteriores.
“A popularização das temáticas ligadas à sustentabilidade é um critério que ajuda a sensibilizar o consumidor final, que forma apenas uma das pontas dessa cadeia. Reforço que a educação ambiental é então um caminho sem volta para construirmos um futuro verdadeiramente pautado no descarte correto do lixo, em grande escala”
9- Para finalizar, deixe sua opinião sobre desafios e expectativas para o setor aumentar a circularidade das suas embalagens e suas ações em prol da sustentabilidade.
O desafio é contínuo, mas há um movimento muito importante de todos os atores. Vejo que, cada vez mais, as empresas estão preocupadas com a destinação correta de suas embalagens e buscam parcerias e projetos que ajudem o consumidor final a descartar seu lixo. Um dos grandes desafios, como já comentei, é a educação em torno da reciclagem. Precisamos trabalhar nisso com força, mostrando à sociedade a importância da reciclagem e que o tratamento do lixo começa em casa, antes do descarte. É um trabalho que precisa ser realizado pelas esferas públicas e privadas. Ninguém vai conseguir fazer esse trabalho sozinho, precisamos de cooperação, de uma frente unida em torno do tema.