Inspire-se em iniciativas que transformam histórias utilizando embalagens pós-consumo
Texto: Elen Nunes / Edição: Flavius Deliberalli
O mês de dezembro é considerado o “mês mais solidário” do ano, pois por conta do Natal, é quando existe uma maior predisposição da sociedade para consumir e também para ajudar e apoiar quem mais precisa. Entretanto, sabemos que, especialmente no Brasil, há uma infinidade de carências que precisam ser atendidas diariamente e incansavelmente.
Cada vez mais, pessoas querem se aproximar de marcas com propósito e compromisso genuínos. De fato, empresas que se planejam e investem em projetos de impacto social, além de fazer o bem, valorizam suas marcas.
Nessa matéria especial desejamos trazer seu olhar para iniciativas oriundas da circularidade de embalagens, que transformaram vidas ao longo de todo ano. São ações de engajamento social de vários lugares do país, que necessitam de embalagens pós-consumo para serem realizadas.
É o nosso convite para que empresas e profissionais da cadeia produtiva e usuária de embalagens se inspirem e se envolvam em iniciativas como as que vamos apresentar a partir de agora. Nosso intuito é de que ampliem seus conhecimentos sobre a versatilidade desses resíduos dentro dos projetos e que isso gere insights que possam resultar em ações.
Já pensou se todas as empresas e pessoas pudessem apoiar um projeto social? Seria como viver um sonho, não é mesmo? Imagina como diminuiria a desigualdade nesse imenso país de 19 milhões de pessoas desamparadas socialmente e em situação de fome? E se falta comida, o que podemos dizer sobre oportunidades e dignidade?
Mas a mudança pode sempre começar em cada um de nós.
Boti Recicla – transforma embalagens plásticas em espaços educativos
Se tem um exemplo inspirador na indústria, é esse aqui do Grupo Boticário. O Boti Recicla foi criado em 2006 e, segundo a empresa, atualmente é o maior programa de logística reversa em pontos de coleta do país, com 4 mil pontos espalhados em mais de 1.500 municípios brasileiros – muitos deles sem nenhum sistema público de coleta seletiva. A operação de logística reversa convida a população, após o uso do seu produto, a devolver embalagens vazias de qualquer marca de cosméticos e destiná-la para reciclagem, contribuindo com o futuro do planeta. Em 2021, parte dessa companha está transformando os resíduos coletados em espaços sustentáveis para uso multidisciplinar, em escolas públicas em todo o Brasil.
A iniciativa atende escolas em cidades de todas as regiões brasileiras, beneficiando mais de 5 mil crianças. Somente neste ano, foram entregues, até o momento, seis espaços escolares em Palhoça (SC), Cuiabá (MT), Vespasiano (MG), Camaçari (BA), São Luis (MA) e Aracaju (SE). E os números impressionam: ao todo, já foram reaproveitadas 2.2 toneladas de plástico reciclado. Acreditamos que o Boti Recicla é uma das iniciativas do Grupo Boticário que serve de exemplo para estimular a indústria e mostrar que é possível transformar resíduos, ajudando não somente o planeta mas, também, a sociedade. Queremos mostrar que a logística reversa é uma possibilidade tangível e potente. Assim como a marca, acreditamos que a indústria de embalagens pode estimular por meio de exemplos que fazem a diferença”, avalia Alexandre Bouza, vice-presidente do Grupo Boticário.
Litro de Luz – ONG utiliza garrafas pet para levar iluminação para locais sem energia
Você sabia que aproximadamente 2 milhões de pessoas não tem acesso a energia elétrica no nosso país? A ideia do projeto Litro de Luz utiliza uma tecnologia simples, econômica e ecológicamente sustentável. A ONG desenvolveu um poste e um lampião de luz, abastecidos a partir de energia solar e todo criado a partir de canos de PVC, lâmpadas LED e garrafas PET, para levar iluminação para comunidades que não contam com energia elétrica.
A utilização das garrafas PET no projeto tem mais de um propósito. Além de ser a marca do Litro, ela também possui um viés técnico e socioambiental. Tecnicamente usam a PET como um protetor de leds contra chuvas e outros eventos naturais, aumentando a durabilidade das soluções. E claro, o valor de sustentabilidade agregado, visto que fazem a reutilização de um resíduo que poderia se tornar um rejeito. E todo esse potencial da PET é sempre compartilhado com as comunidades, que aprendem a reciclar e ressignificar esse material e se tornam parceiros na missão sustentável.
Desde 2014, o Litro de Luz já impactou diretamente mais de 17 mil brasileiros, por meio de 3 mil soluções, alcançando mais de 120 comunidades em todo o Brasil. “Acho que é importante a indústria como um todo compreender e de fato absorver a nocividade de todo esse material plástico que é produzido e descartado no nosso planeta. E se ainda não é possível deixar de produzir, que pelo menos assumam um pouco mais essa responsabilidade e incentivem cada vez mais práticas e projetos relacionados à reutilização e reciclagem desses materiais, seja através de campanhas de conscientização, ou até mesmo de patrocínios a projetos como o Litro de Luz”, ressalta Samara Navarro, RA de Operação e Tecnologia – RJ da Litro de Luz.
Eco Garopaba – pranchas de surf produzidas com garrafas plásticas introduzem crianças ao esporte
Outra iniciativa de impacto é da ONG Eco Graropaba, com um projeto de pranchas produzidas com garrafas plásticas, desenvolvido pelo surfista profissional Jairo Lumertz, que já em 2007 se via inconformado com a poluição dos oceanos. Após muitos testes, a prancha deu super certo e se multiplicou através do projeto Prancha Ecológica dentro das escolas, que está prestes a completar dez anos.
Ao lado de Carolina Scorsin, o projeto avança Brasil afora, conscientizando crianças sobre a importância de cuidar do meio ambiente e possibilitando o contato delas com o esporte, que é tão transformador de realidades. De uma forma simples e didática, o casal realiza palestras de conscientização ambiental, oficina de prancha e muitas vezes dão aulas práticas, despertando o interesse de várias pessoas sobre esse tema.
Durante os anos de atuação, já realizaram palestras para mais de 50 mil crianças, visitaram 17 estados do Brasil e estimam ter retirado mais de 30 mil garrafas que poluiriam o meio ambiente. “Nosso único desafio são os recursos financeiros. A gente sempre está em busca de apoio, mas é bem difícil conseguir incentivos da indústria. Fora isso, somos muito felizes pelo projeto ser um sucesso que muda a vida das pessoas. Nossa maior preocupação é que essa quantidade de embalagens deixe de poluir a natureza. A gente trabalha em cima disso para que as coisas mudem”, explica Carolina Scorsin, coordenadora geral da ONG Eco Garopaba.
Mangalô – escolas e casas construídas com matéria-prima de embalagens
A Mangalô é uma organização que iniciou suas atividades em 2012 e hoje atua com quatro pilares: educação, habitação, sustentabilidade e voluntariado corporativo.
A Mangalô Montessori School é uma escola construída com a mão de obra de 600 voluntários, dentro de um complexo com quatro comunidades, composta por cerca de 150 mil habitantes, na periferia de São Paulo. A construção foi realizada com materiais sustentáveis desde a fundação até o teto, que equivalem a cerca de 2,5 milhões de embalagens plásticas e caixas longa vida recicladas.
Todo o recurso para a construção foi gerado através de empresas parceiras, pessoas físicas que doaram e através de receitas próprias vindas de serviços que a Mangalô presta pra trazer soluções de impacto.
Já o EcoLar é uma startup da Mangalô, estruturada no conceito de negócio social. Focada em criar soluções construtivas sustentáveis de baixo custo, nasceu em 2014 com o objetivo de oferecer moradias mais sustentáveis e acessíveis para as pessoas. Tem como diferencial: sustentabilidade, agilidade no prazo de entrega e custo baixo. “O sistema construtivo que utilizamos é o woodframe, com suas paredes revestidas de chapas sustentáveis e a cobertura também com telhas sustentáveis. Tudo proveniente da reciclagem de caixas longa vida, tubos de pasta de dentes e embalagens plásticas diversas, produzidas pela indústria que atua nessa área. Construir um mundo mais sustentável é nossa missão”, reforça Fernando Teles, fundador da Mangalô.
Projeto Domus – isolamento térmico de casas com caixas longa vida
O Projeto Domus, criado por estudantes da USP de São Carlos (SP), está entre os 12 melhores projetos do mundo em um prêmio de ação climática global das Nações Unidas (ONU). A iniciativa busca revestir moradias em situação precária, reaproveitando embalagens cartonadas, através de uma tecnologia simples.
As casas são revestidas, desde as paredes até o forro do telhado, com placas feitas de embalagens de caixas longa vida, visando oferecer aos moradores um maior conforto térmico, além de proteção contra chuvas, ventos e insetos.
E então, viu só quantas ações significativas e possíveis existem a partir de embalagens pós-consumo? Aproveitamos para citar também o projeto Na Laje Designs, que produz skates com tampinhas plásticas e a TETO Brasil, que emprega telhas sustentáveis feitas com embalagens na construção de moradias. Certamente, há muitas outras espalhadas por esse Brasil criativo.
Todos esses projetos demonstram a necessidade e a importância de investimentos da iniciativa privada. Há diversas formas de envolvimento possíveis para as marcas. Parcerias que poderiam multiplicar significativamente e ampliar o alcance dessas boas ideias, atendendo muito mais brasileiros. E o melhor de tudo é que essas iniciativas são pautadas em valores como sustentabilidade, educação, responsabilidade social e inclusão. E todas utilizam embalagens que certamente poluiriam os rios, mares ou acabariam em aterros. Mas, todos os envolvidos resolveram fazer diferença e fizeram dessas dificuldades, oportunidades transformadoras na vidas de milhares de pessoas.
Esperança para um ano novo, estímulo para novas ações.
E como diria Greta Thunberg, a jovem e empoderada ativista sueca: “Ninguém é pequeno demais para fazer a diferença”.