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Embalagens compostáveis necessitam de composteiras

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Será que o Brasil está organizado para dar conta do seu resíduo orgânico?

Por Ricardo Marques Sastre*

O mundo está enfrentando um grave problema de esgotamento. As metas para redução de impacto ambiental não estão surtindo efeito conforme prometido e muitas frentes foram abertas para contribuir com este tema. Percebe-se que em muitos casos, alguns setores sofrem maior ou menor retaliação quanto a sua parcela de responsabilidade na geração de resíduos no planeta. As matérias-primas, por estarem na base da economia, estão em evidência.

Diante deste cenário, aparece uma palavrinha mágica que promete resolver parte do problema. Aparentemente produtos compostáveis podem ser uma boa solução quando olhamos apenas por alguns ângulos. O ciclo de vida é menor do que muitos materiais e a sua degradação é mais simples, quando descartada em condições ideais. Porém, em seu processo de decomposição ocorre a liberação de Chorume, CO2 e o volume de resíduos gerados é expressivo.

O maior volume predominante em aterros sanitários é orgânico, oriundos de podas de árvores, restos de alimentos, dentre outros. Estima-se que em torno de 2% destes resíduos são destinados para compostagem no Brasil. Diante deste cenário, propor uma solução em embalagem compostável resolverá completamente o problema?

O ponto de partida desta reflexão é entender como o Brasil está organizado para dar conta do seu resíduo orgânico, questão que carece de estudos mais aprofundados sobre o tema. Estas decisões refletem diretamente na estrutura existente, legislações vigentes e na logística reversa de embalagens. Além disso, é necessário entender o ciclo de vida das embalagens compostáveis e propor soluções mais assertivas, tanto em projeto, quanto no tratamento e destinação final.

Sendo os resíduos orgânicos predominantes nos aterros, propor soluções compostáveis sem uma estrutura logística e de tratamento final adequados não parece ser uma opção viável atualmente. Outro ponto importante é instigar a sociedade na adoção de um pensamento sistêmico sobre os problemas ambientais.

Os sistemas complexos como a natureza ainda possuem elementos que ultrapassam a nossa compreensão. É necessário termos precaução e ampliar a percepção de nosso desenvolvimento à complexidade dos sistemas que regem a natureza e que questionam as nossas certezas. Qualquer abordagem de integração do meio ambiente começa pelo conhecimento dos fluxos e os seus impactos. Recomenda-se uma visão multidisciplinar sobre os efeitos causados pelas ações relacionadas a sustentabilidade.

Por fim, o consumidor exerce um papel fundamental para a redução de impacto ambiental, seja através do consumo consciente, utilizando somente o necessário, na separação e destinação adequada de resíduos e na busca por orientações confiáveis sobre os efeitos causados pelas soluções apresentadas no mercado. As empresas precisam fornecer dados confiáveis e orientar corretamente seus clientes sobre os impactos gerados pelos seus produtos.

Estamos diante de um problema complexo e dificilmente será tão simples de ser resolvido quanto parece.


**As opiniões expressas e os dados apresentados em artigos são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, o posicionamento dos editores do Conecta Verde. 

 

 

Conteúdo por:

Ricardo Marques Sastre

*Publicitário; especialista em expressão gráfica e gestão empresarial; mestre em design; doutor em engenharia de produção e pós-doutor em design sustentável; pesquisador; músico; consultor; escritor; professor universitário; diretor na Mudrá Design; soma 28 anos de experiência no mercado de embalagens.

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