Repensar produtos e priorizar os requisitos ambientais são ações mais do que necessárias
Por Ricardo Marques Sastre*
Analisando o sistema de embalagens das empresas e observando o seu comportamento no mercado, percebemos o quanto de desperdícios podemos evitar quando desenvolvemos um projeto de embalagem integrado ao projeto de produto. Além desta integração, é importante entender quais são os requisitos que a embalagem necessita atender e os stakeholders durante todo o ciclo de vida. A embalagem exerce funções e a sua amplitude cresce em paralelo com as mudanças de comportamento da sociedade. Com o surgimento dos supermercados, por exemplo, além das funções primárias de contenção, proteção e transporte, foram atribuídas às embalagens as funções comunicacionais.
Percebe-se um crescimento na inserção de novas tecnologias, como as embalagens ativas, utilizadas para aumentar a proteção ao produto alimentício, e as embalagens inteligentes que utilizam sensores, indicadores e dispositivos para rastreamento e coleta de dados.
A embalagem é parte integrante do produto e o seu custo influencia no preço final, neste sentido, reduzir custos torna-se atrativo para a totalidade das empresas.
Atualmente, entender os impactos ambientais causados pelo sistema produto/embalagem é obrigação de todas as empresas que comercializam produtos no mercado. O nível de complexidade em novos projetos aumentou significativamente e as empresas precisam estar preparadas para esta realidade. Produtos com menor impacto tendem a serem mais caros por falta de escala e outros fatores. Porém, esse paradigma pode ser contrariado quando observamos a cadeia como um todo e as suas possibilidades de redução de desperdícios, e, consequentemente redução de impacto ambiental.
Ser sustentável custa menos!
Durante muitos anos o mercado utiliza a técnica de aumentar o tamanho da embalagem para gerar valor ao produto e atrair clientes. Categorias como brinquedos, cereais e doces são as mais comuns. Pode dar certo em relação a manutenção das metas de vendas, mas será que o custo sistêmico deste produto subsidia esta ação unilateral de atender apenas uma das fases do ciclo de vida, a venda?
Com o objetivo de instigar o leitor para refletir sobre este tema, nossa empresa redesenhou o projeto estrutural de uma caixa de bombom no formato tradicional, em torno de 250g de produto, para entender o quanto podemos reduzir de materiais, processos produtivos e o aumento da eficiência logística. A imagem que ilustra este artigo apresenta um comparativo entre a embalagem atual e a proposta de redução. O mockup foi feito sem impressão e os bombons cobertos por uma folha de alumínio para não expor a marca do produto. Nosso objetivo é contribuir com a cultura da redução de impacto ambiental através da otimização de recursos.
Em relação à redução do uso de matéria-prima, obteve-se um ganho de 20%, ou seja, para cada mil caixas de bombom, se reduz 5,38Kg de papel, fora outros insumos, como tintas e cola por exemplo. Em 1 milhão de unidades, deixa-se de colocar no meio ambiente em torno de 5 toneladas de papel. Se considerarmos uma escala de 200 milhões de pessoas e o Brasil como o sétimo maior mercado consumidor do planeta, imaginem o quanto pode ser reduzido com este ajuste no projeto. Além da matéria-prima, é possível melhorar a eficiência no processo de envase através da redução do comprimento da embalagem (mais embalagens por cm2).
Sobre o frete, a redução é significativa: são 30% menos volume por embalagem. Esta redução reflete diretamente na quantidade de produto por caminhão e redução de pegada de carbono.
Este estudo foi inicial, apenas para ilustrar a mudança. Para dados assertivos é necessário entender o contexto de cada empresa e analisar o ciclo de vida como um todo.
Toda a mudança em escala demanda um esforço enorme e decisões difíceis. As empresas precisam vender para manterem suas estruturas funcionando e continuarem crescendo. O consumidor é parte integrante desta mudança, aceitando as novas soluções que contribuem para a redução de impacto ambiental. As informações devem ser claras e confiáveis. Ações que fomentam a reduflação (estratégia comercial em que a quantidade ou o tamanho de um produto diminui, mas o preço permanece o mesmo ou aumenta um pouco) não são bem-vindas.
Transportar ar e água oneram o custo do produto. Sempre que possível, recomenda-se repensar os projetos de embalagens e produto para reduzir os espaços vazios. Criar embalagens na medida certa, pensar em encaixes, planificação e melhor distribuição nos containers são sempre boas soluções. Amassar o rolinho do papel higiênico para reduzir o volume do fardo foi uma excelente iniciativa e se consolidou no mercado. Fica a reflexão sobre a importância de repensarmos nossos produtos e dar prioridade aos requisitos ambientais.
**As opiniões expressas e os dados apresentados em artigos são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, o posicionamento dos editores do Conecta Verde.