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Os impactos ambientais e sociais da reciclagem

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Em artigo de estreia da Empapel, especialista da entidade destaca que é preciso pensar em políticas públicas que impulsionem a reciclagem, além de negócios orientados para o design de produtos que possam ser facilmente reciclados

Por Rafael Filgueira*

Não há dúvidas de que o atual modelo de negócios e consumo da sociedade está exaurindo a natureza, da produção ao descarte. São bilhões de toneladas de resíduos destinados de maneira inadequada em todo o mundo. Tal cenário nos obriga a diminuir a poluição ambiental e frear o avanço das emissões de gases de efeito estufa: fica evidente a importância da reciclagem.

Apesar do grande potencial para se destacar nessa pauta, a realidade é que o Brasil tem andado de lado. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que vigora desde 2010, não cumpriu uma de suas principais diretrizes: o fim dos lixões.

Além disso, temos pela frente um longo caminho para o avanço da coleta. Segundo dados do Panorama da Coleta Seletiva no Brasil, realizada pelo Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), dos 5.570 municípios brasileiros, somente 2.060 declaram ter o serviço.

É bem verdade que o Governo Federal tem empenhado esforços em outras frentes, com o objetivo de estimular a recuperação e a reciclagem. O movimento dos decretos e regulamentações voltadas ao cumprimento de logística reversa por tipo de material é um exemplo. O primeiro deles, divulgado em 2022, instituiu a logística reversa de embalagens de vidro. Aqui, vale especial atenção para que os próximos decretos a serem publicados, de cada material, levem em conta suas especificidades e considerem processos que já funcionam, bem como seus potenciais de maior recuperação e reciclagem.

O próprio setor privado traz bons insights do que tem funcionado nesta temática. Nossa indústria de papel desenvolveu um modelo de negócios em que a matéria-prima pode ser pensada tanto com fibras virgens quanto recicladas. Dali se inicia e se reinicia o processo de produção de uma série de produtos, como as embalagens.

O setor, atualmente, alcança taxa de reciclagem de 58,1% no Brasil, em processo que envolve diversos entes fundamentais da cadeia para alcançar tal índice, como catadores individuais, associações/cooperativas e aparistas.

Esta direção pode e deve, inclusive, estar em consonância com o papel social que a reciclagem já desempenha. Ações consolidadas de empresas como Irani, Klabin, Smurfit Werstrock, Tetra Pak e Trombini, entre outras, podem direcionar caminhos para o aumento das taxas já alcançadas atualmente. São projetos em diferentes regiões, com vistas a capacitar e qualificar profissionais, proporcionar melhorias de infraestrutura e preparar associações/cooperativas para atender ao mercado e se profissionalizarem.

Estas podem ser algumas iniciativas a inspirar o setor privado como um todo. Indústrias e marcas usuárias, juntas, podem trabalhar de modo a serem mais efetivas em atitudes para promover e estimular o aumento das taxas de recuperação e reciclagem do país, com olhar, até mesmo, para regiões distantes dos grandes centros.

Também deve-se dar atenção para que sejam aproveitados caminhos abertos via políticas públicas. No fim de 2024, o Governo Federal anunciou investimento para retomada do Programa Cataforte, com o intuito de promover a estruturação e fortalecer cooperativas e associações de catadoras e catadores. Além disso, a Lei de Incentivo à Reciclagem (LIR) visa a impulsionar a reciclagem no Brasil através de incentivos fiscais.

É importante registrar que, em nossas casas, ainda temos um longo percurso. Levantamento da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (ABREMA) indicou que apenas 30% dos cidadãos fazem a separação dos resíduos secos do lixo orgânico dentro de casa. Educação e conscientização são pilares inegociáveis nessa nossa caminhada. Tanto na temática da educação ambiental quanto no cumprimento de políticas de coleta seletiva, cabe ao poder público, em especial aos municípios, um maior protagonismo.

Em resumo, faz-se necessária uma melhor concatenação entre poder público, iniciativa privada e sociedade civil para que se chegue a um modelo escalável e estrutural. Aqui é preciso pensar em políticas públicas que impulsionem a reciclagem e negócios orientados para o design de produtos que possam ser facilmente reciclados. Afinal, trata-se de um sistema que, para ser funcional, a premissa a ser reconhecida é a do compartilhamento de responsabilidade.

**As opiniões expressas e os dados apresentados em artigos são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, o posicionamento dos editores do Conecta Verde.

Conteúdo por:

Rafael Filgueira

*Engenheiro Ambiental e coordenador de Logística Reversa da Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel).

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