Outros dados importantes revelam que mesmo com a pressão pela sustentabilidade, mais de 30% das empresas de embalagens não cumprem seus objetivos de redução de emissões
Editado por Flavius Deliberalli
Diante de aterros sobrecarregados e deterioração ambiental, as empresas de embalagens estão sob crescente observação de órgãos reguladores e consumidores. Por conta disso, buscam desenvolver produtos cada vez mais alinhados à economia circular.
O primeiro Relatório Global sobre Papel e Embalagens da Bain & Company, uma consultoria global com escritórios em 40 países, mostra que 71% dos consumidores europeus afirmam querer comprar itens sustentáveis, enquanto a mesma porcentagem de consumidores dos Estados Unidos diz buscar produtos com o mínimo de embalagem possível.
Em contrapartida, muitos ainda não conseguem identificar quais embalagens são mais sustentáveis. O levantamento, realizado junto a 4.000 consumidores, revela que 70% acreditam que o vidro tem uma pegada de carbono menor do que o plástico descartável, enquanto apenas 12% consideram o contrário – na verdade, o vidro tem uma pegada maior.
O estudo destaca também que como resposta à demanda por sustentabilidade, a maioria das empresas de produtos de consumo já assumiu compromissos públicos de ESG, embora muitas marcas ainda não tenham uma visão clara sobre quais materiais de embalagem utilizam em diferentes aplicações.
“A realidade hoje é que as decisões sobre papel e embalagem não devem mais ser tomadas com base apenas em custo, funcionalidade e experiência do consumidor. A sustentabilidade é um tema prioritário, em especial a descarbonização e a circularidade, diz Daniela Carbinato, sócia e líder em ESG para Bens de Consumo nas Américas da Bain & Company.
A executiva ressalta que não há uma opção que seja a melhor em todas as situações quando se trata de escolher um material de embalagem. “A alternativa mais sustentável pode variar muito de acordo com a aplicação e a geografia. As empresas devem avaliar o impacto ambiental de diferentes materiais e levar em consideração todo o ciclo – desde a extração e produção de recursos até o transporte e o fim da vida útil dos produtos”, afirma.
O estudo aponta ainda que a escolha de materiais deve ser realizada com base nos benefícios de cada um e suas compensações do ponto de vista da sustentabilidade. Um exemplo disso é o uso de plásticos flexíveis que, embora tenham a melhor pontuação nas emissões de carbono relacionadas à produção e ao transporte, são os menos circulares ou biodegradáveis.
De acordo com a consultoria, o setor das embalagens tem potencial de crescimento de 21%, atingindo US$ 1,2 bilhão nos próximos três anos, com maior expansão na categoria de papel rígido, que pode ultrapassar as taxas de crescimento do plástico até 2026. Na esteira desse progresso, as ambições de descarbonização também seguem em alta. Até 2019, apenas cinco companhias do setor haviam se comprometido com metas de sustentabilidade baseadas na ciência. Em 2022, já era possível contabilizar 164 empresas com esse foco. No entanto, mais de 30% delas não atingiram suas metas de curto prazo de Escopo 1 e 2. Um número ainda maior, cerca de 41%, deixou de alcançar seus objetivos de Escopo 3.
A pesquisa da Bain & Company indica ainda que as companhias de papel e embalagens que investem em sustentabilidade chegam a observar um aumento de EBITDA de 4% a 6% por meio da redução eficaz de custos e alavancas comerciais. Estratégias robustas de sustentabilidade têm potencial para diminuir os custos de energia e aumentar o acesso a matérias-primas recicladas ou renováveis a valores competitivos, bem como estimular o crescimento orgânico e a realização de preços.
Além de tudo isso, a consultoria aponta que a indústria de Papel e Embalagens tem um impacto significativo na biodiversidade, principalmente em relação à gestão florestal e à utilização da água. Apenas 22% das empresas do estudo relataram ter avaliado o impacto da sua cadeia de valor na biodiversidade e apenas 31% dizem promover ações para limitar a redução de biodiversidade. As empresas que optam por agir, investem em iniciativas para diminuir a exposição da marca e da operação aos riscos relacionados à biodiversidade.
Destaca-se ainda que dentro do setor de embalagens, os negócios relacionados a papel têm sido mais lucrativos que os de plástico e vidro. Esse grande volume de atividades de fusões e aquisições vem tanto de investidores estratégicos, que estão preenchendo lacunas em suas carteiras, quanto de participantes externos de private equity, que desejam gerar valor com novas aquisições.
Mais informações:
Bain & Company
www.bain.com/pt-br/