Em entrevista exclusiva, empresa detalha pilares de sua atuação
Por Elen Nunes / Editado por Flavius Deliberalli
Para a SIG, a embalagem que está na gôndola do supermercado não é só uma embalagem, é o produto final de uma jornada que abrange diversos aspectos. Em uma entrevista exclusiva, Isabela De Marchi, gerente de sustentabilidade da empresa para a América do Sul, revela a fórmula para produzir embalagens contemplando responsabilidade social e ambiental.
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1- A SIG se destaca por sua estratégia de circularidade. Como a economia circular se alinha à missão e aos objetivos da empresa no Brasil? Quais são os principais pilares da estratégia de economia circular para o mercado brasileiro?
A SIG tem um forte compromisso com sustentabilidade e meio ambiente. Temos a ambição de nos tornarmos uma empresa de impacto positivo. No Brasil, desenvolvemos diversas iniciativas alinhadas com a estratégia global da companhia. Um dos pilares é o +Recursos, que tem como objetivo o desenvolvimento de produtos e inovações em circularidade. Nossas embalagens cartonadas são projetadas para serem recicladas.
A SIG busca minimizar o impacto de suas embalagens inovando com o aumento do uso de materiais renováveis, inserindo conteúdo reciclado e produzindo embalagens assépticas sem alumínio, o que reduz a pegada de carbono. Além disso, investe em ações para conscientizar e promover o desenvolvimento de uma cadeia de reciclagem ética.
No Brasil, atuamos com parceiros e investimos em tecnologias que fomentam a reciclagem. Somos investidores semente do projeto Recicleiros Cidades, desenvolvido pela organização da sociedade civil Recicleiros, que desenvolve e apoia municípios e cooperativas para a implementação de coleta seletiva, além de trabalhar no desenvolvimento de políticas públicas voltadas a reciclagem. Somos investidores também do programa so+ma vantagens, que incentiva a mudança do comportamento do cidadão por meio de um programa de troca de materiais recicláveis por recompensas. No Paraná, hoje possuímos seis pontos de coletas. Estamos também investindo em uma planta de reciclagem onde será feita a separação das camadas de polímero e alumínio das embalagens cartonadas com previsão de lançamento para 2025, além de desenvolver um projeto junto com a Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Paraná e a organização Earthworm, que visa endereçar direitos humanos na cadeia da reciclagem.
2- Detalhe parcerias significativas que a SIG tem estabelecido com cooperativas, ONGs ou empresas para garantir o reaproveitamento de materiais.
Nossas parcerias contribuem com a nossa estratégia local de circularidade considerando a construção de uma cadeia de fornecimento circular ética. Pensamos não somente na circularidade dos nossos produtos, mas também em garantir que toda a cadeia seja mantida de maneira ética e sustentável. O que isso quer dizer na prática é que olhamos para todos os elos da cadeia para que as pessoas que trabalham nela tenham um trabalho digno, seguro e com remuneração justa. Com o Recicleiros Cidades, apoiamos no treinamento e profissionalização das cooperativas, além de fomentar o desenvolvimento de políticas públicas junto aos municípios. Com a so+ma vantagens, incentivamos a mudança de comportamento do cidadão para a reciclagem com recompensas, como cursos profissionalizantes e itens da cesta básica e de higiene, apoiando não apenas a reciclagem, mas também impactando a comunidade.
Lançamos recentemente o programa Empreendedoras da Reciclagem, junto à so+ma e ao governo do Paraná, ajudando um grupo de 50 mulheres que trabalham ou já trabalharam com reciclagem a se profissionalizarem por meio de cursos e mentorias.
“A SIG busca minimizar o impacto de suas embalagens inovando com o aumento do uso de materiais renováveis, inserindo conteúdo reciclado e produzindo embalagens assépticas sem alumínio, o que reduz a pegada de carbono”
3- De que forma a SIG mede o impacto de suas iniciativas de economia circular? E quais os resultados já alcançados em sua jornada de economia circular no Brasil?
Com a so+ma vantagens, possuímos seis casas/pontos de coleta no Paraná: Mercado Municipal, Batel e CIC em Curitiba, e CIOSP, Itaqui e Ferraria em Campo Largo, e coletamos mais de 220 mil quilos de materiais reciclados em 2023, entregando mais de 11 mil recompensas como cursos profissionalizantes e itens da cesta básica. Já com o Recicleiros Cidades, estamos em 14 cidades, sendo que de janeiro a setembro de 2024 foram coletadas mais de 5 mil toneladas de materiais reciclados, atendendo a mais de 978 mil pessoas e gerando 347 empregos, sendo que mais 12 cooperativas estão em processo de incubação no programa.
4- Com a expertise e as métricas que a empresa possui, quais são os principais desafios enfrentados na implementação de soluções de logística reversa e reciclagem no Brasil? Como essas barreiras estão sendo superadas para fortalecer a circularidade no setor de embalagens?
Hoje, no Brasil, reciclamos apenas 4% dos 82,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos gerados anualmente, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). A grande maioria dos municípios brasileiros não possuem políticas públicas de reciclagem ou programas de coleta seletiva. Apesar do consumidor brasileiro estar consciente da necessidade da reciclagem, grande parte da população ainda não recicla. Além disso, o Brasil é um país de dimensões continentais e atuar em todos os locais por questões logísticas é um desafio. Por isso, nossa estratégia é voltada para todos os elos da cadeia: desenvolver produtos com matérias-primas certificadas, renováveis e projetadas para a reciclagem; possuir programas que incentivem reciclagem e mudança do comportamento do cidadão para a reciclagem, como o so+ma vantagens; apoiar municípios no desenvolvimento de políticas públicas de coleta seletiva com o Recicleiros Cidade, garantindo que este processo seja inclusivo e justo para os catadores, e investimento em novas tecnologias de reciclagem que vão valorizar as embalagens pós-consumo e remunerar melhor toda a cadeia.
“Apesar do consumidor brasileiro estar consciente da necessidade da reciclagem, grande parte da população ainda não recicla. Além disso, o Brasil é um país de dimensões continentais e atuar em todos os locais por questões logísticas é um desafio”
5- O recente projeto Empreendedoras da Reciclagem tem um nome que carrega propósito e empoderamento. Como essa iniciativa contribui para capacitar mulheres e promover o protagonismo feminino na economia circular? Quais são os principais impactos esperados para as participantes e para o meio ambiente?
Cerca de um milhão de pessoas no Brasil são catadores de materiais recicláveis, 70% são mulheres e em sua maioria negras, segundo levantamento do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR). Com esta nova iniciativa, procuramos capacitar e empoderar essas mulheres, junto à so+ma e ao governo do Estado do Paraná, visando desenvolver habilidades e ampliar oportunidades no ecossistema da reciclagem. O programa oferece treinamento e mentoria para as participantes, ajudando a se qualificarem para o empreendedorismo e estarem prontas para as tomadas de decisão.
6- A SIG tem se mostrado comprometida não apenas com os aspectos ambientais, mas também com os impactos sociais da economia circular. Como a empresa enxerga a importância de projetos sociais para fortalecer as comunidades e gerar valor compartilhado? Quais transformações esperam alcançar ao impulsionar iniciativas sociais ligadas à sustentabilidade? Endereçar os aspectos sociais é peça fundamental para fortalecer comunidades e criar valor compartilhado. Nosso compromisso vai além das nossas operações; ele se estende para iniciativas que promovem a inclusão, o empoderamento e o desenvolvimento sustentável nas comunidades onde estamos presentes. Quando falamos de reciclagem, estamos falando de uma cadeia de fornecimento circular. Com o aumento da demanda por uso de conteúdo reciclado, é necessário garantir que este fornecimento seja feito de forma ética e responsável.
No Brasil, estamos orgulhosos de nossas parcerias com programas e organizações que fazem a diferença. Por exemplo, o Programa da Cadeia de Fornecimento Ético, desenvolvido em colaboração com o Governo do Estado do Paraná e a Earthworm Foundation, tem como objetivo promover práticas responsáveis ao longo da cadeia de reciclagem, garantindo que os benefícios do desenvolvimento sustentável cheguem a todos os envolvidos.
Outro destaque é o programa Empreendedoras da Reciclagem, que visa capacitar mulheres catadoras, oferecendo a elas as ferramentas necessárias para se tornarem líderes em seus negócios e alcançarem independência financeira. Este projeto reflete nosso compromisso com a igualdade de gênero e o empoderamento social.
Além disso, iniciativas como o so+ma vantagens e os Recicleiros integram tecnologia e conscientização para transformar a reciclagem em um motor de desenvolvimento comunitário, incentivando a separação de resíduos e garantindo melhores condições de trabalho para cooperativas de catadores. Esses programas contribuem para fortalecer a infraestrutura de reciclagem e promover a economia circular de maneira inclusiva.
Ao impulsionar essas iniciativas, esperamos transformar a forma como as comunidades percebem e se beneficiam da sustentabilidade. A SIG acredita que esses projetos são catalisadores para mudanças significativas, ajudando a construir um futuro mais justo e sustentável para todos.
“Cerca de um milhão de pessoas no Brasil são catadores de materiais recicláveis, 70% são mulheres e em sua maioria negras”
7- Poderia compartilhar um exemplo recente de inovação em embalagens que destaque o compromisso da SIG com a economia circular? Como essa inovação contribui para um ciclo de vida mais sustentável dos produtos?
Em nosso portfólio SIG Terra temos opções de embalagens com menor impacto ambiental, desde matérias-primas certificadas até materiais reciclados pós-consumo. No Brasil, lançamos recentemente o SIG Terra Polímeros de base florestal com a marca Bemsei. Essa embalagem contém 95% de matéria-prima renovável e possui 100% das suas principais matérias-primas certificadas pelo padrão ISCC PLUS, ASI e FSC. Estudo de análise de ciclo de vida demostrou que esse formato garante uma redução de 35% na pegada de carbono da embalagem, quando comparado às embalagens cartonadas padrões.
8- Como a empresa enxerga a importância da educação ambiental como parte de sua estratégia de sustentabilidade?
Na SIG, acreditamos que a educação ambiental é um dos pilares mais importantes para a construção de uma sociedade mais consciente e sustentável. Como parte de nossa estratégia de sustentabilidade, investimos continuamente em programas que incentivam a mudança de comportamento e o engajamento em práticas responsáveis, tanto dentro das comunidades quanto na nossa cadeia de valor.
A educação ambiental desempenha um papel crucial em promover a economia circular, conscientizando sobre a importância da reciclagem e da redução do desperdício. Por isso, apoiamos iniciativas como o Programa so+ma vantagens, que usa gamificação para engajar pessoas na separação e destinação correta de resíduos. Além disso, projetos como o programa “Empreendedoras da Reciclagem” incluem a educação ambiental como componente chave, capacitando mulheres catadoras não apenas em práticas de reciclagem, mas também em como usar seus conhecimentos para transformar suas comunidades.
Com o programa Recicleiros, temos diversas iniciativas voltadas a educação, seja por meio da Academia do Gestor Público, que auxilia gestores municipais de todo o Brasil a construirem e qualificarem o espaço regulatório e o serviço municipal de coleta seletiva, ou pela Academia do Catador, que é um programa de formação socioprofissional para cooperativas de reciclagem disponibilizado gratuitamente para qualquer cooperativa do Brasil, ou ainda pela iniciativa Vox Lab, com um laboratório de mudança de comportamento para reciclagem, onde criamos e testamos hipóteses para aumentar a participação da população e o volume de materiais reciclados.
“Na SIG, acreditamos que a educação ambiental é um dos pilares mais importantes para a construção de uma sociedade mais consciente e sustentável”
9- Existem programas de conscientização para os consumidores para incentivar a reciclagem das embalagens? Sim, além do so+ma vantagens, trabalhamos em parceria com nossos clientes no desenvolvimento de estratégias para o incentivo da reciclagem com seus consumidores.
10- Olhando para o futuro, quais são as principais metas de sustentabilidade que a empresa espera alcançar nos próximos anos? Quais iniciativas e inovações sustentáveis estão planejadas para impulsionar esses objetivos?
A SIG possui quatro pilares em sua estratégia de sustentabilidade e tem como objetivo se tornar uma empresa de impacto positivo.
+Clima – tirar mais carbono da atmosfera do que produzimos. Hoje trabalhamos apenas com energias renováveis e também utilizamos energia solar em nossa planta, além de termos metas ambiciosas de redução de emissão e de desenvolvimento de embalagens com
menores emissões;
+Florestas – apoiar na restauração e preservação de florestas. A SIG se comprometeu a manter 100% da área florestal que utiliza como recurso e a apoiar a restauração e preservação de 650 mil hectares adicionais de florestas nativas até 2030. Esses 650 mil hectares representam o volume a ser consumido de floresta FSC para a produção do papel de nossas embalagens em dez anos. Hoje já trabalhamos com 100% de papel certificado FSC, e temos uma parceria com a WWF para o desenvolvimento de projetos focados em florestas;
+Recursos – acelerar a inovação para a circularidade. Nossas embalagens são produzidas para serem recicladas e possuímos diversos projetos relacionados ao fomento de uma cadeia ética de fornecimento circular em parceria com organizações da sociedade civil, governo, startups e academia;
+Alimento – foco na segurança dos alimentos e segurança alimentar. Nossas embalagens são desenvolvidas para garantir a segurança dos alimentos e nossa tecnologia asséptica possibilita que produtos sejam envasados e permaneçam sem refrigeração por meses. Assim, mais pessoas e de lugares mais distantes conseguem ter acesso a alimentos nutritivos e seguros.
“A educação ambiental desempenha um papel crucial em promover a economia circular, conscientizando sobre a importância da reciclagem e da redução do desperdício”