Confira entrevista exclusiva com Gustavo Vitti, vice-presidente de Pessoas e Sustentabilidade da empresa
Por Elen Nunes / Editado por Flavius Deliberalli
O iFood obteve um crescimento considerável em suas atividades por conta da pandemia. Esse crescimento gerou também uma maior utilização de embalagens. Por conta disso, nossa editora Elen Nunes conversou com Gustavo Vitti, vice-presidente de Pessoas e Sustentabilidade da empresa para saber quais o planos para impactar menos o meio ambiente e seguir crescendo.
Leia agora:
1- O iFood possui dados sobre o aumento do consumo de delivery durante e/ou pós pandemia?
A empresa alcançou a marca de mais de 270 mil restaurantes na plataforma no mês de março de 2021 em todo Brasil, sendo que mais de 110 mil restaurantes entraram na plataforma em 12 meses. Esse movimento foi reflexo do avanço tecnológico e da grande transformação digital nos hábitos de consumo, o que permitiu que milhares de estabelecimentos ganhassem fôlego e se reinventassem em meio à crise gerada pela pandemia. O iFood saltou de 30 milhões de pedidos mensais em março de 2020 para 60 milhões de pedidos em março de 2021. Desse total, 16 milhões (~30%) vêm de restaurantes cadastrados há um ano no aplicativo. A grande maioria tornou-se parceiro do iFood por enxergar na plataforma uma alternativa para manter o negócio ativo e com o caixa saudável durante a crise sanitária que o país enfrenta. Ainda em março de 2021, cerca de 50% dos pedidos em restaurantes foram feitos em pequenos e médios.
2- O iFood já tinha metas sustentáveis? A pandemia antecipou esse processo? Explique.
O iFood já se preocupava com a sustentabilidade antes mesmo da pandemia. Estipulamos que a nossa meta é se tornar uma empresa carbono neutro, que tenha 50% das entregas sendo realizadas por modais não poluentes e zerar a poluição plásticas das nossas operações até 2025. Abaixo, listamos as cinco principais atitudes “sustentáveis” da empresa, que fazem parte do iFood Regenera (programa de metas ambientais): desde julho, 100% das entregas do iFood são compensadas antecipadamente em CO2 e os recursos são investidos em projetos de preservação da Floresta Amazônica. Para isso, a foodtech firmou parceria com a startup ambiental Moss.Earth e fez um inventário para saber o quanto seria emitido nas operações no segundo semestre deste ano. A iniciativa é inédita, porque as empresas geralmente adotam esse procedimento no carbono já emitido. Outra iniciativa refere-se à forma de entrega no delivery, com o objetivo de que 50% das entregas sejam feitas por meio de modais não-poluentes até 2025. O iFood firmou uma parceria com uma montadora e já dispõe de 30 motos elétricas em fase de testes. A previsão é alcançar mais de 10 mil até o final de 2022. Ainda dentro da aposta em modais sustentáveis, a empresa fechou parceria com a Tembici, projeto desenvolvido exclusivamente para entregadores, e que oferece capacitação, kit personalizado e planos acessíveis para o aluguel de bikes elétricas. Atualmente, mais de cinco mil entregadores estão cadastrados no iFood Pedal e compartilham mil bikes elétricas em São Paulo e no Rio de Janeiro. O plano é expandir o projeto para outras cidades e, assim, aumentar o percentual de entregas limpas. Assim como as motos, as bikes elétricas garantem menos barulho e poluição, além de representarem menor custo para os entregadores. A empresa traçou a meta de zerar a poluição plástica até 2025. Para isso, criou o selo da campanha “Amigos da Natureza” que reconhece boas práticas ambientais dos restaurantes cadastrados no iFood. Hoje, para ativar a campanha, o restaurante precisa ter a opção para que os usuários possam escolher não receberem talheres plásticos e outros itens descartáveis dentro do seu cardápio digital. Já temos mais de 40 mil restaurantes adeptos a essa campanha e já são mais de 20 milhões de pedidos entregues sem talheres, guardanapos e canudos plásticos. Nossos próximos passos são engajar mais restaurantes para que também sejam “Amigos da Natureza” e ampliar essa solução no app para a recusa de outros itens plásticos como sacos e sacolas. A iniciativa é muito relevante, pois de 1950 até 2017, um total de 9,2 bilhões de toneladas de plástico foram produzidas – o que equivale a mais de uma tonelada por cada habitante do planeta atualmente. A maior parte consiste em produtos e embalagens de uso único. Menos de 10% de todo o plástico já produzido foi reciclado. Além disso, o Brasil – ao lado dos EUA, China, Índia e Indonésia – está entre os TOP 5 produtores de plástico no mundo. O Brasil produz mais de 11 milhões de toneladas de plástico ao ano – quarto maior produtor mundial de lixo plástico. Em 2018, mais de 1,13 trilhão de unidades de embalagens — a maioria delas de plástico — foram usadas para alimentos e bebidas apenas na União Europeia. A embalagem não é o único problema: a agricultura utiliza a cada ano cerca de 6,5 milhões de toneladas de plástico em todo o mundo.
O iFood vem buscando alternativas de embalagens sustentáveis para o meio ambiente e viáveis para restaurantes e consumidores. Através de uma parceria com a Suzano – referência global na fabricação de bioprodutos desenvolvidos a partir do cultivo de eucalipto – lançou o desafio Embalagens do Futuro, que tem como objetivo desenvolver embalagens sustentáveis para o setor de entrega de refeições.
“O iFood já se preocupava com a sustentabilidade antes mesmo da pandemia. Estipulamos que a nossa meta é se tornar uma empresa carbono neutro, que tenha 50% das entregas sendo realizadas por modais não poluentes e zerar a poluição plásticas das nossas operações até 2025”
3- As mudanças do iFood em relação à sustentabilidade certamente faziam parte dos valores da marca, mas o consumidor do iFood vem sinalizando essa escolha mais sustentável? Tem demonstrado maior preocupação com o impacto ambiental? Se sim, detalhe como.
A grande aceitação de restaurantes como parceiros da campanha “Amigos da Natureza”, demonstra como o consumidor está atento às questões sustentáveis e aceitando “recusar” plástico e contribuir para essa causa. O número de 20 milhões de pedidos entregues sem talheres, guardanapos e canudos plásticos é bastante expressivo e tende a crescer cada dia mais. Um dado importante é que dos pedidos nos restaurantes com essa solução habilitada, 90% dos clientes optam por não receber esses itens plásticos descartáveis.
4- Quais as mudanças que já foram realizadas para embalar os produtos iFood impactando menos o planeta?
Em julho deste ano, o iFood organizou o primeiro workshop da América Latina, o iFood Open, para levantar o debate sobre a viabilidade de embalagens sustentáveis e economia circular no delivery. O evento, online e gratuito, contou com a participação de especialistas, autoridades e executivos do mercado. Outra iniciativa foi a criação do desafio “Embalagem do Futuro”, em parceria com a Suzano, que teve como objetivo estimular a participação da sociedade no desenvolvimento de embalagens sustentáveis para o setor de entrega de refeições.
5- Quando falamos sobre embalagens mais sustentáveis, quais os desafios que o iFood enfrenta para avançar (fornecedores, logística, profissionais ou materiais)?
Ainda não existe uma bala de prata que seja ao mesmo tempo sustentável e acessível economicamente. Um dos desafios é como essa embalagem vai ser descartada. Não adianta, por exemplo, ser biodegradável e ir para o aterro sanitário. O programa de redução de plásticos tem como objetivo evitar o uso do plástico, encontrar novas soluções de embalagens e reciclar o que circula. As embalagens fazem parte do negócio de delivery e, por isso, também temos atuado no pós consumo que é o final da cadeia. Hoje, no Brasil, apenas 3% do resíduo é reciclado. Para aumentar a taxa de reciclagem é necessário atuar em todas as etapas do processo: educação ambiental dos consumidores para que separem corretamente os resíduos, aumentar a quantidade e distribuição dos pontos de coleta, melhorar a qualidade dos resíduos que chegam às cooperativas e apoiar e investir para aumentar a produtividade de cooperativas. Nossa expectativa é de coletar mais de 300 toneladas de resíduos recicláveis por mês através desses PEVs (Pontos de Entregas Voluntárias). Hoje temos quase 100 PEVs para materiais recicláveis instalados em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília com parceiros com modelos de negócios variados, mas com a mesma visão de evitar que resíduos com potencial de reciclagem acabem em lixões, aterros e oceanos. Também estamos conversando com outras grandes empresas para discutir outros grandes projetos como investimento em novas centrais de triagem semi-mecanizada para potencializar ainda mais esses resultados.
6- Como o iFood se posiciona em relação à circularidade das embalagens? Há iniciativas nesse sentido?
É um grande desafio no qual estamos focados e também envolvendo a sociedade. O iFood Open levantou o debate sobre a economia circular no delivery. Continuamos em busca de soluções sustentáveis, que atendam ao consumidor e sejam viáveis economicamente para nossos parceiros restaurantes. Além disso, temos quase 100 PEVs para materiais recicláveis instalados em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília com o objetivo de evitar que resíduos com potencial de reciclagem acabem em lixões, aterros e oceanos.
Também temos um projeto em teste junto com a Re.pote com embalagens retornáveis. Estamos aprendendo como operar nesse modelo. Ainda temos muitos pontos de melhoria antes de escalar essa solução.
“Ainda não existe uma bala de prata que seja ao mesmo tempo sustentável e acessível economicamente. Um dos desafios é como essa embalagem vai ser descartada. Não adianta, por exemplo, ser biodegradável e ir para o aterro sanitário”
7- Temos metas para embalagens do futuro, no iFood?
O plástico domina entre as embalagens, principalmente no delivery. Enquanto não encontrarmos uma solução sustentável e acessível seguimos com o nosso compromisso de zerar nossa poluição plástica até 2025. Recentemente, o iFood assinou um compromisso público para reduzir os plásticos descartáveis em suas entregas de comida com a campanha #DeLivreDePlástico, organizada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), principal autoridade ambiental no sistema das Nações Unidas (ONU), e pela Oceana, ONG focada na proteção dos oceanos no mundo. O compromisso é dividido em três fases. Na primeira, o foco principal serão os itens descartáveis. Até 2025, 80% dos pedidos deixarão de enviar talheres, pratos, copos, guardanapos e canudos plásticos. Mesmo antes de assumir o compromisso público com o PNUMA e a Oceana, o iFood já tinha como meta zerar a poluição plástica até 2025. Com o engajamento de lojas parceiras e clientes, a companhia já atingiu mais de 20 milhões de pedidos entregues sem talheres plásticos esse ano. A segunda etapa do compromisso envolverá um plano de trabalho com metas públicas para a redução da oferta de sacolas e embalagens plásticas descartáveis, que será definido até março do ano que vem. Até lá, o iFood também incluirá sachês na iniciativa de não envio de itens opcionais. Além disso, a companhia realizará estudos para definição de um plano de trabalho para inserção de embalagens retornáveis e/ou reutilizáveis nas entregas de refeições. O prazo para essa iniciativa é dezembro de 2022.